“I have a dream…”, Eu tenho um sonho para a minha paróquia. Não foi exactamente assim, mas bem que poderia ter sido a homilia do P. Patrício Oliveira no passado dia 01 de Outubro, na Marinha Grande.
Nesse dia a comunidade foi convidada a juntar-se para melhor se conhecer-se e dar-se a conhecer. Quem somos? O que fazemos? Porque e para que o fazemos? Foram o mote para o Dia Da Visão. Movimentos e Serviços cheios de criatividade fizeram festa, coloriram com muita alegria e vida o Parque Mártires do Colonialismo. Escuteiros, Catequese Familiar e da Adolescência, Acólitos, Mensagem de Fátima, Oficinas de Oração e Vida, Coro, Ministros da Comunhão, Liturgia, Curso Alpha, Pastoral Juvenil, Juventude Operária Católica, Irmãs de Santa Maria de Guadalupe, Equipas de Nossa Senhora estiveram todos representados.
Houve encontro, comunhão, partilha. Tudo começou a fazer mais sentido na Eucaristia às 11h da manhã. Logo no início o P. Patrício relembrou que temos de saber para onde vamos, com quem o fazemos e como o fazemos.
Este sonho paroquial partilhado, desde o início, pelo P. Rui Ruivo e mais recentemente pelo P. Jorge Fernandes assenta na ideia na construção de um plano pastoral que faça sentido para a comunidade, onde a sinodalidade esteja presente. Onde todos caminham juntos e querendo, ninguém fique de fora.
Tudo começou num encontro para preparação e organização da vida pastoral da comunidade numa sexta-feira de manhã na Praia de S. Pedro de Moel, influenciados pela imagem de uma concha. E desta imagem passou-se para o conhecido Jogo da Glória, que todos ou quase todos jogámos em criança. Um jogo muito simples, onde ao entrar-se em jogo tudo pode acontecer. Podemos começar na casa de partida e fazer um caminho sem grandes desvios, ou pelo caminho encontrarmos vários desafios que vamos fazendo caminho dispares e em sentidos diferentes, sendo, no entanto que o objetivo é só um. Chegar à casa final. Assim funciona a nossa vida pessoal, familiar, laboral e especialmente a nossa vida no Encontro com Jesus e no caminho que queremos fazer com Ele e que se estende também aos outros.
“Tudo o que fazemos, a forma como planeamos, desenvolvemos e avaliamos deverá ter um objetivo, uma missão: fazer discípulos missionários, criar um ambiente propicio para o encontro pessoal com Deus que leve a vidas transformadas” (P. Patrício Oliveira). Todos somos diferentes. Todos temos experiências de vida diferentes; formas de socialização primária (na família) e secundária (na escola e no contato com outras instituições que não a família) diferentes; oportunidades económicas, sociais, culturais e religiosas diferentes. As comunidades paroquias são disso mesmo reflexo: as próprias experiências de vivência da fé de cada pessoa na comunidade são diferentes.
E se tradicionalmente havia como que, uma lógica uma rotina que se iniciava com o batismo em criança, a ida para a catequese aos 6/7 anos, o celebrar um conjunto de sacramentos e festas que culminavam no sacramento do Crisma ou Confirmação e depois as pessoas acabavam por ficar na comunidade paroquial ao serviço da mesma, em função das suas competências, gostos e dons e neste percurso encontravam a sua vocação: leigos, matrimónio, ou até a ordem. Mas, hoje, as pessoas mudaram. O mundo mudou. E percebemos verdadeiramente que “a tradição já não é o que era”, com tudo o isso traz de bom e menos bom.
Na catequese familiar encontramos pais que trazem os filhos e que os acompanham, porque os filhos (crianças de 7 anos) os convidaram. Adultos de 50 anos que se batizam após muitos anos terem optado por estar longe de Deus. Adultos que nunca foram à catequese, foram apenas batizados, mas que um dia são convidados para um jantar, e em que a possibilidade da mousse de chocolate é um excelente motivo para ir e vão a 2 encontros Alpha e de repente questionam-se, interrogam-se e tudo começa a fazer sentido. Adultos que constituem família, mas que não querem nada com o matrimónio e que vêm pedir o batismo para os filhos e acabam por pedir o próprio batismo e até decidem dar “o nó”.
Há uma panóplia de realidades. Para conseguirmos estar aberto a Todos é preciso cativar, tal como o Principezinho fez com a sua raposa. Primeiro criou laços. Depois criou rituais. Depois sentiu a falta e por fim “[ficou] responsável para todo o sempre por aquilo que [cativou]” (Saint Exupéry, O Principezinho).
O Jogo da Glória é também um bocadinho disto. Tem como objetivo o Discipulado Missionário e até lá chegar existem várias etapas ou fases fundamentais: Convite, Encontro Pessoal com Cristo, Liderança e serviço, Grupos de Partilha, Discipulado, Missão, Adoração e Pertença. Funcionam como um Todo. Precisamos de perceber onde nos encontramos, ou onde o Outro se encontra e fazer ou ajudar a fazer caminho. Um caminho que faça sentido para cada um, onda cada um encontre o seu equilíbrio pessoal e na comunidade e se sinta feliz.
O convite para um chá, café ou jantar, pode ser o primeiro passo. Depois podem seguir-se outros convites para ler na Eucaristia, para colaborar na catequese familiar a cuidar dos mais pequenos e rebeldes, para vir fazer oração, para vir à Missa, para vir ao grupo de jovens ou aos encontros da JOC ou do Alpha, para vir fazer parte do coro, para vir descascar batatas para a sopa da festa da Padroeira ou para vir enfeitar as ruas ou os andores, entre tantas outras possibilidades de convite. E, passo a passo, há um sentido de acolhimento, que gera a falta, e mais cedo ou mais tarde o verdadeiro Encontro com Jesus. E depois o querer tê-lo de forma mais presente na vida e o caminhar com Ele e com toda a comunidade. Uma comunidade onde todos se conhecem. Todos sabem os seus nomes, sabem o seu papel, percebem a missão de cada um. Uma comunidade que se suporta e ampara, como dizia o P. Patrício na Homilia e depois de forma bem visual concluía numa paróquia em que quem descasca uma cenoura para fazer uma filhós o faz com este sentido de missão, para que quem a vá comer, sinta verdadeiramente o amor de Deus.
Seremos verdadeiramente discípulos missionários, quando à luz do Evangelho as nossas vidas forem transformadas. E isto é uma realidade para todos. Mesmo para quem já faz caminho há muitos anos, para quem percebeu a importância de Jesus na sua vida muito cedo. Mas há que renovar permanentemente, continuar a questionar para que esta necessidade de sentir verdadeiramente a sua vida transformada, não seja uma realidade efémera, mas permanente.
“I have a dream”…
Viviana Cordeiro