A Assembleia Diocesana contou com um testemunho em primeira pessoa de uma paroquiana da Marinha Grande, fica aqui o seu testemunho
Sou a Ana Umbelina Silva, tenho 50 anos, sou casada pela Igreja e tenho uma filha de 7 anos, a Caetana. Nasci e fui criada numa família católica “não praticante” (cresci a ouvir esta expressão e, agora, concluo que a mesma não faz qualquer sentido). Os meus pais não quiseram que fosse batizada em bebé, porque gostariam que eu percebesse o conceito de “Batismo”.
No final do ano de 2022 decidi que queria receber este sacramento, não para poder ser madrinha, ou cumprir uma promessa, ou casar pela Igreja; queria apenas iniciar uma vida cristã. Fui, nos meses que antecederam o Batismo, apresentada à comunidade, durante a missa, como catecúmena. Foi um processo muito pessoal, um tanto solitário (por opção), emocionante, de descoberta e de conhecimento de algo que desconhecia quase na totalidade. Foi muito pensado. Entendi que tendo 50 anos não me iria precipitar.
No dia 8 de abril, deste ano, durante a Vigília Pascal, fui batizada pelo padre Patrício Oliveira, na paróquia da Marinha Grande.
Na noite que antecedeu o meu Batismo, não dormi. No próprio dia, estava extremamente nervosa. Pedi que não me incomodassem, fechei-me no quarto e falei com o Senhor: perguntei-lhe se estava a proceder corretamente, se era esse o meu caminho. Orei. Tive a certeza. Fui-me acalmando, até que chegou o momento de ir para a nossa igreja. O momento… bem, o momento foi belo, sentido, com muita essência. Começou com uma tentativa do padre Patrício de esconder uma lágrima no olhar, de felicidade por todos os catecúmenos… Dirigimo-nos para o exterior da Igreja e as luzes foram desligadas. Com a ajuda dos escuteiros acendemos o Lume Novo. Foi aceso o Círio Pascal e foram colocados os cravos no mesmo. Voltámos para o interior da igreja escura e, com a ajuda dos acólitos e dos catecúmenos, passámos o lume novo de pessoa em pessoa, de vela em vela… A igreja ficou linda, iluminada na noite, iluminada com velas que representavam a presença da Luz de Deus. Para mim tudo era novidade, porque nunca tinha assistido a tamanha beleza e com tanto significado: nesse dia deixei de ser pagã ou prima (como alguém me chamava…) e passei a ser irmã de toda uma comunidade. Após o Batismo recebi a confirmação, com o sacramento do Crisma. E quando comunguei pela primeira vez, aí, sim, o meu coração acalmou. Tive consciência que tinha dentro de mim o Corpo e Sangue de Cristo. Foi indescritível. Queria chorar de alegria, mas estava estranhamente calma. O pensamento estava vazio de futilidades e focado naquele momento de extrema importância. Tinha o meu padrinho do meu lado, homem grande, forte, mas que, naquele momento, estava tão frágil e emocionado quanto eu, apesar de toda a sua vivência em Igreja. (Dez dias depois casei pela Igreja com o Miguel.)
No final da noite, no regresso a casa de familiares, senti que já era filha de Deus Pai, já poderia morrer em paz… pensamento estranho, mas que também me povoou a cabeça naquele momento.
O meu Batismo passou por um processo de decisão (muito) longo e demorado. Começou antes da pandemia, em 2019, com o Batismo da minha filha Caetana. Eu, sempre disse que, se tivesse filhos, não queria que eles fossem batizados… Mas os desígnios de Deus… Esta demora teve uma razão de ser: queria ter mais conhecimento para que a minha decisão fosse fundamentada e não fosse precipitada. Felizmente, e com o auxílio do Espírito Santo, sei que tomei a decisão correta. Continuo feliz e emocionada. Sempre que recordo esse dia fico com um sorriso colado nos lábios. Um sorriso terno de uma filha que passou a ter um Pai que é Deus e só Amor.
Para mim, e para quem me conhece, o meu Batismo foi um ato de profunda coragem que me trouxe consequências várias ao nível pessoal. Mas posso dizer que foram boas consequências, apesar de algumas serem dolorosas ou não entendidas por mim, ou pelos outros. Todas foram fenomenais. Desde o dia 8 abril, dia de profunda comoção, que encaro a fé católica de uma forma ainda mais profunda. Continuo a adquirir conhecimentos de Alguém que deu a Sua vida por mim, por todos nós e pelos nossos pecados. Há algo mais belo e com mais significado do que este gesto?
Quero agradecer a Deus o facto de estar presente na minha vida, e por ter colocado tantos rostos no meu caminho: ao padre Jorge Fernandes, ao padre Rui Ruivo (que me ouviu numa fase muito embrionária – durante o Enovar2019, em Cascais), à irmã Susana Salinas (o meu primeiro e doce contacto com a Igreja), ao meu padrinho e amigo, Joaquim Mexia Alves (que me ajuda, ensina, contraria, desafia, me coloca a pensar), ao padre Patrício que me “pescou”, numa fase da vida em que eu precisava de algo mais (ele estava atento, ele percebeu pelas minhas simples palavras e comentários) e, colocando em prática e de uma forma tão simples o conceito de evangelização, convidou-me para participar no Alpha número 13, realizado em 2019, na nossa paróquia, ao bispo D. José Ornelas, que me ouviu, conversou acerca do Batismo e da Igreja, e me ungiu com o óleo dos catecúmenos, ao Papa Francisco e à Santa Igreja que tanto me têm ensinado a refletir.
Nunca mais me senti, e sei que não me sentirei só. Somos todos Igreja.
Quero também dizer que antes do meu Batismo comecei a fazer parte da equipa de liderança pastoral (com uma participação muito incipiente), frequentei o CPM e, após o Batismo, frequentei a catequese de adultos. Frequento a catequese familiar com a Caetana, ajudo na angariação de bens para a Conferência São Vicente de Paulo, fui família de acolhimento das JMJ2023 e faço parte do grupo de leitores na missa.
E agora? Agora quero mais. Quero aprender mais. Quero sentir-me acolhida por todos, mas sempre com a consciência de que tomei a decisão correta.
Termino apenas com uma pergunta: o que seria agora a minha vida sem o convite feito pelo padre Patrício para participar no Alpha em 2019? Com certeza que continuaria cinzenta e sem sal…
Como batizada corro para alcançar a meta que é Cristo que me dá da Sua Luz.
Ana Umbelina Silva