Nota história da Paróquia

 A Igreja Paroquial, matriz da freguesia eclesiástica da Marinha Grande, cujo orago é Nossa Senhora do Rosário, foi objecto de várias obras de beneficiação ao longo dos seus vetustos quatro séculos de vida, decorridos desde a fundação e entrada ao culto, por 1590, a fazer fé no Couseiro

    A documentação hoje disponível dá-nos a conhecer vários planos de obras, especialmente aquelas que terão constituído as primeiras ampliações efectuadas ao primitivo templo, em 1757. Contudo, as mais importantes obras de restauro e ampliação do templo tiveram especial incidência no século XIX, época da qual estão disponíveis preciosos registos documentais, comprovativos de, pelo menos, quatro grandes intervenções de fundo ao longo da centúria, em campanhas de obras durante as quais o templo foi completamente intervencionado e remodelado aos níveis da arquitectura, estética e espaço volumétrico, com recurso ao derrube total das estruturas anteriores e a progressiva ampliação do edifício até ao modelo que perdurava ainda à década de 1960, quando deu lugar ao edifício actual, uma igreja salão de linhas modernistas, construída de raiz, benzida em 8 de Dezembro de 1971.

    No documento de fundação da primitiva igreja, a transcrição de um contrato firmado entre os moradores da Marinha e o Bispo de Leiria, D.Pedro de Castilho, o tabelião é bem explícito ao designá-la como uma ermida, sinal seguro da sua pequenez, vocacionada para albergar a pequena comunidade «da Marinha e outros casais ao redor» nesses finais de quinhentos.

    Esteticamente, essa primitiva ermida quinhentista, não andaria muito distante da antiga capela de S.Pedro de Muel, demolida em 1954, de traça nitidamente seiscentista, em estilo puramente rural, típica das pequenas ermidas construídas em alvenaria grosseira, disseminadas um pouco por todo o litoral centro das quais existem ainda alguns exemplares, mal conservados e em lamentável estado de ruína e abandono, permitindo contudo, e talvez graças ao esquecimento que as preservou ao longo dos tempos sem alterações significativas, fazermos hoje uma ideia da arquitectura religiosa seiscentista das pequenas ermidas rurais erguidas nesta região, entre as quais pode seguramente incluir-se a primitiva ermida da Marinha.

    De composição social eminentemente rural, pobre, «tão pobre», como os próprios moradores referem no citado documento, embora já importante ao ponto de contar entre os vizinhos de 1588, signatários da petição ao Bispo, um mestre alfaiate, João Pires, sinal de alguma vitalidade comercial e económica, se bem que embrionária, a permitir a manutenção de um artesão com o seu negócio, ao qual veio somar-se a despesa comunitária com o sustento do Cura da freguesia. A Paróquia vai beneficiar de um crescimento demográfico relativamente rápido na primeira metade do Séc. XVII, surgindo-nos então, pela década de cinquenta, a primeira descrição da ermida e da relação contratual entre os paroquianos e o seu prelado em matéria de sustento do Cura.

 

    « No anno de 1590 fizerão os moradores da Marinha, e Gracia petição ao mesmo Bispo Dom Pedro, dizendo, que tinhão feito huma Ermida, de invocação de Nossa Senhora do Rozario, no Lugar da Marinha, e pedião licença para nella se dizer missa, e lha concedeo, para que os moradores, impedidos, fossem a ella, com licença do Cura; consta do livro 2º de registo, a fl. 167. No anno de 1600 a erigio em Freguezia, debaixo da mesma invocação do Rozario, desmembrando os da Freguezia de Sam Tiago do Arrabalde da Ponte, donde erão freguezes, a aprezentação do Cura ficou ao Prelado; a fabrica da Igreja, capella, sanchristia, e cazas do Cura, à obrigação dos freguezes; ao Cura taxarão setenta alqueires de trigo, e déz de segunda, e hum quartão de vinho cada hum; de prezente dão pelo vinho trinta reis, e tem o contrato, e clauzulla, que sendo os freguezes mais de outenta, lhe acrescentarião o salario. O Prelado dá ao Cura somente 3$000 reis, em dinheiro; tudo consta do contrato, que está no Cartório da dita Igreja, feito entre o Prelado, e os moradores dos ditos lugares; e para a obra da Igreja mandou o Bispo dar 20$000 reis, das rendas da Fabrica; consta do livro das contas daquelle tempo, da Fabrica, que está no seu Cartorio.

    Tem o Cura as ofertas da parochial, somente, algumas amentas voluntárias, de meio alqueire de milho cada huma.

    Tem a parochial duzentos fogos, pouco mais, ou menos.

    O altar mor tem nicho de pedra, doirado, e nella a imagem da Senhora, de vulto; tem mais dois collaterais, com nichos, doirados,Nossa Senhora da Incarnação, Sam Sebastião e Sam Francisco, de vulto, tem sanchristia, capella de pia de baptizar, fechada, e hum sino pequeno.»

 

    Pelo relato do Couseiro retiramos várias conclusões, uma das quais é a primeira constatação da estética, dimensão e património construído e iconográfico da pequena igreja paroquial da Marinha, então já Marinha Grande, termo que por 1626 começa a surgir com frequência na documentação notarial de Leiria.