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Visão e estratégia para a Catequese Paroquial

 O mundo parece virado do avesso este ano. A nossa vida e a nossa normalidade viram-se transformadas de uma forma abrupta e é bem verdade que todos nós temos muitas dúvidas e questões que não vemos respondidas com facilidade. O mesmo se passa com a nossa Paróquia e a nossa actividade pastoral. No entanto de uma coisa temos a certeza: ficar parados e esperar que passe não é uma opção. Mais que nunca é imperativo recordar o coração da nossa missão e encontrar novas estratégias para a alcançarmos: ao jeito do Evangelho queremos “ir e fazer discípulos, ensinado tudo quanto Eu vos ensinei” (Mc 28, 19-20). E por discípulos entendemos aqueles que se sentem comprometidos num caminho de crescimento e de encontro com Deus. Uma postura diferente do já famoso “cristão não praticante”. A nossa visão, o nosso sonho, é uma comunidade de discípulos missionários. Uma comunidade de pessoas que se sentem comprometidas com a missão, dentro das suas capacidades, dons, talentos e possibilidades.

Neste sentido, a pandemia acabou por provocar uma reflexão e uma mudança que há muito tempo vinha a crescer. A catequese é sem sombra de dúvida um dos sectores da Paróquia onde mais tempo se investe, onde mais voluntários oferecem o seu tempo e serviço. Mas é também motivo de grandes preocupações e alguma frustração.

Percebemos com facilidade que com o tempo e dadas as circunstâncias a catequese, e a forma de fazer catequese, se foi moldando ao modelo escolar. Infelizmente saiu do seu âmbito próprio para “invadir” aquilo que seria o âmbito familiar. Acabou, de algum modo, por substituir a família como agente principal da educação para a fé das nossas crianças.

A catequese deve ser um apoio ao pais na educação. A transmissão da Fé faz-se sobretudo no seio familiar. Numa primeira fase, chamemos-lhe Kergimática, de primeiro anúncio. E numa segunda fase Didaché, o aprender sobre Deus, aí sim mais na catequese.

Ao mesmo tempo, a catequese ajuda na dimensão celebrativa da Fé, permitindo uma experiência entre pares, ao juntar as crianças da mesma idade, que falam a mesma linguagem e experimentam o mundo da mesma forma.

O que temos vindo a verificar é um certo afastamento das famílias, muito porque os próprios adultos não tiveram uma experiência positiva, e transformadora, que os ajude a assumir o seu papel. Muito disto passou a ser feito por tradição: “quero batizar os meus filhos para lhes dar o que os meus pais me deram a mim”, sem que isso signifique que os pais fizeram uma adesão à Fé e a vivem ativamente. Somos muito reféns do espírito do “católico não praticante”.

Perante as limitações da pandemia, pareceu-nos estarem reunidas as condições perfeitas para uma mudança profunda. A mudança impôs-se naturalmente, já não nos é de todo possível manter a nossa estrutura habitual; e mudar a estrutura apenas para manter um modelo, que não estava a dar os frutos devidos, também não nos parece correto. Queremos por isso assumir a mudança na estrutura da catequese não por causa da pandemia e das regras, mas porque queremos melhorar a qualidade da catequese.

E isso significa uma mudança muito simples. A catequese trabalha, tradicionalmente, quase exclusivamente na catequese da infância/adolescência. Os adultos ficam de fora, salvo raras exceções de quem procura os sacramentos em idade adulta. Desde há vários anos que a nossa Paróquia vem mudando a abordagem com os adultos, o que originou um resultado surpreendente: a redescoberta da Fé e da relação com Deus em idade adulta, que traz sempre uma grande novidade e um maior desejo de empenho. Pensamos que a solução para as nossas preocupações pode passar por mudar o foco da nossa atenção: mais para os adultos e não quase exclusivamente para as crianças.

As crianças aprendem muito naturalmente por imitação dos pais. São os pais que precisam de desenvolver a sua relação pessoal com Deus para se tornarem modelos e guias da Fé, tal como prometido no dia do batismo dos seus filhos.

Por isso, a nossa missão mantêm-se:

“Ide, fazer discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos ensinei.” Mc 28, 19-20

A nossa visão continua a ser arrojada e ousada: que todas as famílias da nossa paróquia se sintam participantes, discípulos missionários, apaixonados e em caminho com Deus.

O que muda é a nossa estratégia: desenvolver uma catequese de adultos, não apenas em ordem aos sacramentos, mas como resposta ao desejo de procurar Deus na nossa vida e redescobrir a beleza da vida cristã. Como diz o nosso Bispo: encontrar razões da nossa esperança.

Propomo-nos trabalhar diretamente com os pais, recordar o Kerigma, o primeiro anúncio; recordar a Didaché, um caminho que nos permita, em conjunto, encontrar a Fé com a vida. Uma experiência que nos faça sentir a Fé, não apenas como uma dimensão da nossa existência, mas a dimensão que transforma e potencia todas as outras dimensões: humana, familiar, profissional, até a maneira de entender o mundo. 

É importante sublinhar isto: não queremos desresponsabilizar a paróquia pela catequese, queremos fazer catequese em conjunto com os pais. Queremos trabalhar para dar aos pais a possibilidade de assumirem a sua missão de educadores.  

Em tempos de incerteza em relação ao futuro, queremos focar-nos no essencial. Acreditamos que mais importante que uma catequese formativa, é uma catequese de celebração que transforme a Fé em algo concreto que diz respeito à nossa vida, ao nosso dia a dia.

Sonhamos que nada disto seja entendido como uma obrigação; queremos desconstruir a mentalidade da participação na catequese em ordem ao sacramentos, sobretudo o Crisma para “se poder ser padrinho”. Queremos voltar à origem da Igreja, fazer um caminho de descoberta que levará ao desejo de ser crismado por querer assumir uma relação pessoal com Deus e ser testemunha disso e não apenas por preceito.

No que diz respeito à catequese de adolescência, as mudanças já se começaram a notar desde o início do Projecto Say Yes. O próprio Secretariado Nacional da Catequese tem promovido uma mudança de paradigma na forma de abordar a catequese. Procura uma catequese mais participativa, onde os jovens participem, interroguem e esclareçam as suas dúvidas. Procura uma pedagogia de projeto para a evangelização e para o serviço, na qual os adolescentes serão co-protagonistas, juntamente com os catequistas e outros intervenientes em dinamismo de abertura ao Espírito Santo, que é a “alma da missão”. Pretende envolver os catequistas num processo formativo e colaborativo. Procura ser um contributo para a renovação da catequese com adolescentes. Tem um caráter experimental e visa ser um laboratório de inovação catequética.

Esta continuará a ser a nossa aposta para a adolescência que funcionará em moldes ligeiramente diferente.

Devido às limitações impostas e regras a cumprir, todos os anos de catequese terão um encontro mensal presencial. A adolescência terá, como até aqui, também um segundo momento presencial, com a oração Shemá.

Sonhamos com uma comunidade que se apoia, que aprende e cresce em conjunto na Fé. Uma comunidade que se torna uma comunidade de discípulos missionários.