Andamos com Pressa no Ar há um ano, mais coisa menos coisa. Tem sido um turbilhão de emoções, como só os grandes projetos de Deus provocam. Do entusiasmo de quem não sabia para o que ia, para o sorriso cauteloso de quem sabe bem a alhada que lá vinha, passámos ao “está mesmo a acontecer” quando o Benjamim nos visitou, bem como a Ana Risco. Quando chegámos ao ponto de não retorno, o entusiasmo frenético deu espaço a uma atitude focada.
Observei estas mudanças com curiosidade e expectativa. Ninguém, mas mesmo ninguém estava preparado para o que nos esperava. Deu muito mais trabalho do que os nossos piores pesadelos tinham sonhado!
Os voluntários superaram as nossas melhores e maiores esperanças; as famílias de acolhimento multiplicaram-se como cogumelos mágicos, ao ponto de a determinada altura não haver peregrinos que chegasse para todos.
E os peregrinos... bom esses deram-nos um banho de carinho, amizade, simpatia que ninguém previa.
Neste rescaldo dos Dias nas Dioceses, numa altura em que os nossos jovens, e o nosso ainda jovem padre Jorge, fazem parte daquela massa de gente que vira Lisboa do avesso, sento-me sozinho no cartório.
Ainda não consigo verbalizar bem o que sinto. Para além do trabalho na paróquia, o acompanhamento do COPinha, mas também uns trabalhos extra para dar apoio à equipa Diocesana que, como não podia deixar de ser, me deram bem mais trabalho do que eu esperava; sinto-me atropelado por tudo aquilo que se passou. Foi uma surpresa ver o rosto de Jesus formar-se à minha frente numa multidão plural, colorida e fortemente unida na busca e na resposta do amor de Deus. Nem as dificuldades de comunicação foram impedimento.
Ao pensamento e ao coração assumiu várias vezes uma pequenina, mas familiar, voz que me dizia: é esta a minha Igreja, é esta a Igreja que quero que continues a cuidar.
Esta semana, apareci de surpresa na Bobadela, só para dizer olá aos nossos jovens, ainda não se tinham instalado completamente, mas já havia qualquer coisa no ar.
Mesmo cautelosamente, coloco muitas esperanças em tudo isto.
Nos jovens, que se sintam parte de um algo maior onde vale a pena pertencer, como diz o Papa ser parte do TODOS.
Mas também nos mais maduros que deram, permitam-me a expressão, o litro estes dias. O COPinha, a equipa de cozinha, os que meteram férias, os que pausaram a reforma. Guardo com carinho a mistura de cansaço levado à exaustão com um entusiasmo que só pode vir do coração de Jesus, transmitido diretamente pelos sorridos agradecidos dos peregrinos.
Estes dias são “a prova acabada” que a nossa comunidade é capaz de ser um instrumento absolutamente incrível. A comunidade paroquial é muito mais do que o preceito dominical e a catequese para ser crismado e talvez padrinho. Aprendemos que a comunidade pode ser local de encontro com o amor de Deus, instrumento de transformação interior que ajuda a uma conversão e aproximação a Deus e ao seu projeto de amor.
Tocou-me a simplicidade e a humildade do senhor Arcebispo de Berlim. Quando a casa paroquial foi generosamente oferecida como família de acolhimento, tremi todo. e afinal, não podia ter recebido melhor hóspede. Simples, gentil, humilde. Trocámos impressões, dados estatísticos paroquiais e diocesanos. Partilhámos preocupações, a certeza de um futuro desafiante, mas também a certeza que é por aqui o caminho certo para levar a bom porto esta Igreja que o Senhor Jesus nos confia, a TODOS.
A coroar estes dias, e porque o coração aguenta sempre um bocadinho mais, tive oportunidade de rezar as vésperas com o Papa. Ficou-me que a pressa no ar que vivemos, se pode transformar em urgência missionária. Há muito a fazer para haja espaço. Há muito a fazer para que os que estão ainda de fora, queiram fazer parte deste todo. Temos um longo caminho pela frente sim.
Conto verdadeiramente com a generosidade e a energia dos nossos jovens, os jovens dos 0 aos 99 anos.
Todos os estes dias me encheram de uma alegria, que não é nova mas, que por vezes, parece ser ofuscada pela vida pela espuma dos dias.
Não é demais voltar a agradecer a generosidade de todos os que oram voluntários e equipa. Quem foi generoso daquilo que é seu para que tudo corresse assim.
Estou certo de que guardaremos o carinho dos peregrinos.
Rezo, nesta tarde do dia 04 de Agosto, em que celebramos a memória de S. José Maria Vianney, padroeiro dos Párocos, para que esta Jornada Mundial não fique uma memória de dias que passaram. Rezo para que este entusiasmo continue a ser alimentado, nos sacramentos, na vida comunitária. Rezo para que não tenhamos medo de ser uma Paróquia Missionária, focada no anuncio que há lugar para TODOS. A mesa do reino tem lugar para todos e nós vamos fazer a nossa parte: vamos apertar-nos para que mais possam sentar-se. Vamos convidar, vamos partilhar, crescer e entusiasmar juntos. Rezo para que o carinho que nutrimos pelo Santo Padre se converta em acolhimento do Evangelho como ele é: desafiante e transformador.
Pe. Patrício Oliveira, pároco da Marinha Grande