Domingo Gaudete
É assim denominado o III Domingo do Advento.
A razão é que gaudete! (alegrai-vos!), é a primeira palavra, há muitos séculos, do cântico de entrada deste domingo: «Gaudete in Domino semper!» («Alegrai-vos sempre no Senhor!»), convite tomado de Fl 4,4-5, que dá a este domingo – justamente a meio do caminho de Advento – um tom de alegria e esperança, porque já está próximo o Senhor.Este domingo tem um paralelo com o IV da Quaresma, o Domingo Lætare. Os paramentos dos ministros, neste dia, podem ser cor-de-rosa e pode-se dar um maior relevo aos adornos e à música, apesar de se estar a meio de um tempo caracterizado pelo uso moderado destes elementos.
“ - Já tens o paramento rosa pronto?”
É a pergunta da praxe por estes dias.
A resposta é sim, está pronto. O paramento.
O resto ainda vamos a ver!
Gaudete, alegrai-vos, é a palavra de ordem para este Domingo, o terceiro do Advento.
A coroa fica quase pronta, há luzes e mercadinhos de natal. Este ano comprei o Conto de Natal de Charles Dickens. O amigo Ebenezer Scrooge, e o Grinch, se forem de outra geração, assombram-me com muita frequência. Porque há mercados de Natal e paramentos rosa (ou rose em inglês que faz um trocadilho com Jesus rose from de dead), mas a alegria corre o risco de ser um tanto ou quanto artificial, porque tem que ser, ou porque é “cá dentro”: porque o que importa mesmo “é espiritual e não precisa cá dessas coisas folclóricas!”
Mas, e o entusiasmo? Aquele frio que leva a sorrir e que aquece o coração?
É certo que já não somos crianças para ficar entusiasmados com as prendas.
Ou os filhos já são grandes e já não é a mesma coisa
Ou andamos cansados e exaustos e é mais um conjunto de coisas para tratar e ver se não falta nada para ninguém ficar ofendido e vai ser outra luta para saber onde vai ser a ceia se na mãe ou na sogra e, e, e mais alguma coisa que apareça, que parece evaporar todo o entusiasmo que era suposto estarmos a sentir.
No caso deste(s) padre(s), é a azáfama, as confissões e as visitas que se multiplicam. A probabilidade estatística que assombra com a possibilidade de velório no 24 ou no 25.
É nesta altura que o Ebeneezer e o Grinch passam por mim, e uma voz vinda lá do lado dos rebanhos: estás a ficar parecido.
É bem verdade que há muito abuso, alguns quase no limiar do excesso. Mas um bocadinho de espírito de festa? Se calhar também nos ajuda.
Quanto mais não seja para ajudar a criar um ambiente diferente da azáfama, que depois nos predisponha a deixar-se tocar de modo verdadeiro pelo verdadeiro Espírito.
Sim, porque acredito que também pode haver Ebeneezers espirituais, o risco de um Natal que seja demasiado frugal é real e perigoso.
Olhemos o presépio: se a aflição do parto longe das condições ideais é uma realidade, não é menos real que Maria e José terão experimentando uma alegria profunda (sobrenatural) que os terá surpreendido, apesar de tantos motivos para aflição.
Talvez seja essa alegria que evocamos. O roxo penitencial alivia e fica mais suave, os nossos olhos contemplam uma manjedoura ainda vazia, mas entusiasmam-se com a certeza de que Alguém especial vem aí, algo especial quer acontecer na nossa vida.
Como Maria e José talvez nos encontremos divididos entre a aflição e a espectativa.
Este domingo recorda-nos que a aflição não leva a melhor sobre nós. Deixemos que se acenda uma pequenina torcida, aquela que ainda fumega, afastemos os fantasmas do Natal passado e o do futuro (que também é bem assustador) e aproveitemos a presença do presente (sim, com todas as camadas de significado que a palavra tem).
O anúncio dos pastores concretiza-se, hoje, no nosso empenho, no nosso entusiasmo, na coragem de bater aquela porta, aquela visita, aquele telefonema.
A alegria Gaudete, o Gáudio[1] que celebramos não se mede só pela vontade de vestir uma camisola horrível, mas brota da certeza que mesmo com o mundo virado do avesso, Ele vem, Ele chama, Ele toca, Ele transforma, Ele perdoa, Ele bate à porta. E isso, deve fazer-nos sorrir à maneira do nosso querido padre doutor Branco que dizia em relação às anedotas: quem riu não percebeu, quem sorriu entendeu.
Sorriamos com esperança.
[1] n.m. Do mesmo significado de contentamento, folguedo, júbilo ou regozijo;