O Rosário, oração dos simples

Caros diocesanos,

No dia 25 de abril, o Papa Francisco dirigiu uma breve carta a todos os fiéis católicos sobre o mês de maio particularmente dedicado à devoção à Virgem Maria, Mãe de Jesus e da Igreja. Convida os fiéis a exprimir o seu amor a Maria concretamente através da oração do rosário. O isolamento social neste tempo ajuda a valorizar a oração, a sentir-se mais unidos espiritualmente em família e mais fortes para superar a provação atual.

É interessante que o Santo Padre realce a simplicidade do rosário. De facto, é chamada a oração dos simples. Foi assim a sua origem no meio do povo simples: para exprimir o amor à mãe celeste, sentir a sua proximidade e invocar proteção. O próprio nome “rosário” significava oferecer uma coroa de rosas (as “ave-marias”) a Nossa Senhora. Não se reduz a um “amuleto” ou “objeto mágico” de pôr ao pescoço. É antes um exercício de abandono dos nossos afãs nos corações de Jesus e de sua mãe. Pode fazer-se em qualquer lugar ou hora do dia, de modo individual, em grupo, família ou comunidade, com a maior simplicidade. Mesmo se nos distraímos, podemos oferecer essas distrações a Nossa Senhora.

Além disso, bate ao ritmo da nossa vida e dos problemas do mundo. Durante a sua recitação, com o olhar e o coração de Maria, vamos meditando os mistérios gozosos, dolorosos, luminosos e gloriosos de Cristo. Ao mesmo tempo, integramos neles a nossa própria vida e a do mundo, tecida de alegrias e de dores, de sombras e de luz, de perturbação e de esperança.

Com esta minha carta quero unir-me ao apelo do Santo Padre e fazer eco dele para a nossa diocese, onde ouvimos Nossa Senhora a pedir aos pastorinhos num tempo dramático da história da humanidade: “Rezem o terço todos os dias para alcançar a paz para o mundo e o fim da guerra”. Apercebemo-nos de que se trata de uma oração dos momentos difíceis, como meio de se abrir à misericórdia de Deus, de Lhe confiar a nossa vida e a do mundo, unidos ao Coração Imaculado de Maria e sob a sua proteção materna.

Envolver e ensinar as crianças

Desejo salientar aqui a resposta dos pastorinhos que levaram a sério o pedido de Nossa Senhora. São um bom exemplo para todos nós e em especial para as crianças. A propósito lembro as palavras do bondoso Papa S. João XXIII, num encontro com crianças em 1963. Dizia-lhes carinhosamente: “Sois-nos muito queridos como as pupilas dos nossos olhos, sobretudo porque, com a natural vivacidade dos vossos anos, sois crianças que rezam”, e pediu-lhes para rezarem uma dezena (dez ave-marias) do rosário, por dia, acrescentando que “um dia sem oração é como um céu sem estrelas, como um jardim sem flores”.

Peço, então, que se envolvam também as crianças nesta oração, ensinando-as de modo pedagógico, prático, gradual e progressivo, de acordo com a sua idade. Elas podem intervir também dizendo alguma intenção. As crianças mais pequeninas podem rezar somente três ave-marias, as maiores dez e os adolescentes todo o rosário, quer dizer, os cinco mistérios. Aproveite-se para explicar o sentido da oração e de cada uma das fórmulas que compõem o rosário. Na internet, é fácil encontrar ajuda neste sentido. Para captar a atenção, é bom fazer a oração diante do cantinho preparado para o efeito, pondo nele uma imagem de Nossa Senhora, uma vela acesa e porventura flores.

Correspondamos, então, generosamente, ao pedido do Papa Francisco invocando a proteção maternal da Virgem Maria, Mãe espiritual da humanidade, e a intercessão dos santos Francisco e Jacinta Marto, para que nos ajudem a libertar desta pandemia e das suas terríveis consequências económicas e sociais.

No primeiro domingo de maio, dia da mãe, confiemos à ternura e intercessão da Mãe de Jesus todas as nossas mães e, em especial, as mães que sofrem por causa de doenças, morte, ingratidão ou até violência dos seus filhos. A Mãe do Céu lhes seja de conforto e ajuda.

 

Leiria, 29 de abril de 2020.

 

† Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima