Senhor o que te quero dizer? Não sei.

Com a devida autorização, partilhamos o testemunho da Ana Umbelina Silva, membro da nossa Equipa de Liderança Paroquial, catecúmeno que será baptizada nesta vigília pascal.

O meu coração pula, o estômago está embrulhado; ontem estive presente na Missa da Ceia do Senhor, na Adoração ao Santíssimo e hoje na Celebração da Paixão do Senhor. Não estive apenas presente. Senti. Senti algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida.

Olhei para Ti Senhor; senti o sabor salgado das minhas lágrimas que me percorreram a cara mas que, comparadas com o Teu sofrimento por nós não foram nem são nada. Sei que representaram sentimentos e um sentido que quero para a minha vida. 

Como nunca me predispus a passar por tudo isto? Talvez por ser mais fácil gozar e dizer que não acreditava para chocar os mais crentes. Pecado, parvoíce, egocentrismo, tolice, agora vejo. 

A narrativa feita hoje pelos Padres Patrício, Jorge e dois paroquianos foi de uma brutalidade incrível. Tanto mal que te fizeram Senhor. Consegui visualizar o contexto em que te encontravas. Até parece que senti o cheiro e o sabor do Teu sangue misturado com a raiva de quem te quis mal. Que barbaridade Senhor. Como sofres-Te por todos nós. 

Ontem senti necessidade de dormir com o meu marido e a minha filha. Queria tocar-lhes da mesma forma que me tocas-Te. Era tarde e eu ainda, às escuras do meu quarto, tentava digerir os meus sentimentos. Conclui que estava perante o Teu Amor. Não poderemos todos senti-Lo? Não poderemos todos ser tocados por Ele? 

Hoje junto da Cruz onde estavas representado com todo o sofrimento que Te causaram… curvei-me, curvei-me perante Ti para demonstrar todo o meu Amor que começa também a crescer dentro de mim. Queria fazer-te uma festa, beijar-te como fazia quando era pequenina (e durante toda a minha infância) enquanto a minha querida e amada avó foi viva.

Agora percebo porque em Anadia, com toda a família reunida na sala, todos nos curvávamos perante Ti e todos Te beijávamos. Ouvíamos o silêncio dos adultos e o sussurro e os risos das crianças que corriam de casa em casa, sempre à frente da Cruz (a ouvir ao longe o som do sininho) para ver quem chegava primeiro e repetíamos sempre os mesmos gestos com a mesma alegria e como se fosse a primeira vez. 

Era uma alegria inocente, de crianças que nada sabiam ou percebiam do significado da Páscoa. Agora que olho para trás fico saudosa e feliz por ter passado por tudo isso. Domingo, se Deus quiser, irei reviver tudo isto. Agora sim. Com muito significado e a perceber o porquê de tudo o que o Padre irá dizer e fazer na sala de casa da minha família.

Ontem e hoje pensei imenso no meu Baptismo e no facto de ser tão bem acompanhada pelos Padres da nossa Paróquia e pelo meu Padrinho Joaquim. Tem sido incrível e maravilhosa esta caminhada. Uma caminhada que deixa a pele arrepiada. Ainda me aturam as minhas dúvidas e inquietudes. Penso serem normais de quem ainda tem tanto, mas tanto para aprender.

Por favor, Senhor, dá-Lhes saúde, vida e paciência para me aturarem, para me ensinarem, para me pescarem quando me afastar, para me “puxarem as orelhas”, sempre que necessário e principalmente permite-Me usufruir de tudo isto ao lado deles. Que sorte temos na nossa Paróquia por ter dois Padres que nos conseguem transmitir todo o teu Amor. Tu sabes o que fazes. Sabes que nós precisávamos deles na nossa Paróquia. Obrigada Senhor.

 Amanhã, durante a Vigília Pascal, serei Baptizada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas sei que estarei orgulhosa, feliz, arrebatadoramente feliz apesar das contrariedades de todos aqueles que me são mais próximos… não Te preocupes tenho força. Lágrimas, amanhã? Não sei.

 Ontem na Adoração ao Santíssimo, por coincidência (ou não), firmei o meu nome em conjunto com o meu Padrinho num quadro que dizia: “Senhor, conta comigo!”

 Há algum tempo o meu nome não constaria lá. Agora sim. Consta! E que orgulho que eu sinto. A forma como quero pautar a minha vida é agora diferente. Já começou com o Alpha, no século passado, como diz o Padre Patrício carinhosamente, mas agora com mais certezas.

Peço-te Senhor, amanhã, recebe esta pecadora de braços abertos. Estou extremamente nervosa, expectante, penso nos meus familiares que partiram para junto de Ti e que, ao Teu lado, estão tão orgulhosos, da sobrinha e da neta que têm. Foi uma decisão minha, só minha ser Baptizada. Mas fi-lo com a consciência de quem quer mudar, de quem quer ser tocada por Ti.

Estou e estarei disponível. De coração aberto Senhor. Podes contar comigo! Porque eu sei que estarás sempre a olhar por mim e por todos aqueles que precisam.

Ana Silva