S. José, Santo porquê?

Um santo é alguém cujas virtudes se destacaram de alguma forma e serve, por isso, de exemplo para os seus contemporâneos e para as gerações seguintes. Já nos perguntámos porque é que São José é santo? Alguém responderá de imediato: porque era o pai adotivo de Jesus e o marido de Maria! Parece óbvio, não? Bem, mas, por essa ordem de ideias, todos os familiares e amigos e até vizinhos de Jesus seriam venerados como santos. Mas não se é automaticamente santo por proximidade ou uma espécie de contágio. Por isso, a resposta deverá ser outra.

Sabemos que José não deixou obra escrita; aliás, os Evangelhos não registam uma única palavra sua. Tão-pouco fundou uma ordem monástica ou uma obra de caridade. Então, qual a sua relevância na História da Salvação? O que é que faz dele um modelo para nós? E, em especial, porque nos é apresentado como modelo de homem de família?

Como diz o ditado, o homem põe e Deus dispõe. Como Pai por excelência, sabe melhor do que nós mesmos o que é realmente bom para nós e, por isso, desafia-nos e propõe-nos caminhos alternativos, que nem sempre conseguimos aceitar, nem sequer compreender. Deus trocou os planos a José, como faz a todos nós. Ele tinha uma profissão para assegurar o sustento de uma família, seguia os preceitos da Lei de Deus e estava noivo de uma jovem virtuosa. Como se costuma dizer, a sua vida estava encaminhada. Até que Maria engravida misteriosamente e José se vê confrontado com a necessidade de tomar uma decisão da maior importância para ele, para os seus e para a Humanidade que Cristo veio salvar.

José esteve à altura das circunstâncias, mesmo não tendo podido escolhê-las. Aceitou-as, não contrariado ou com revolta, muito menos derrotado. Homem de fé, abriu-se à voz que lhe dizia, no seu íntimo, que o que estava a acontecer-lhe era conforme o plano de Deus. Homem de honra, acolheu Maria como esposa. Homem de família, fez seu filho, por inteiro, o Menino-Deus e cuidou d’Ele e da Mãe.

O nosso desafio, hoje como sempre, é aceitar integralmente a nossa vida e fazer o nosso melhor com as circunstâncias. As nossas, não as dos outros ou as ideais. Aceitar os aspetos menos luminosos do marido ou da esposa, seja um traço de personalidade mais exigente, algumas partes da história pessoal, uma doença ou limitação – a “bagagem” que todos trazemos e impomos aos outros.

Aceitar que os filhos não são nossa propriedade nem servem para realizar os nossos sonhos ou compensar as nossas frustrações. Aceitar que vão desiludir-nos várias vezes – e nós a eles – e dar-nos alegrias diferentes das que esperaríamos.

Aceitar que o trabalho nem sempre nos preenche mas desgasta sempre.

Aceitar os colegas e vizinhos que nos calharam. Aceitar a família, pais, irmãos, sogros, cunhados.

Aceitarmo-nos a nós mesmos.

A alternativa a esta aceitação permanentemente renovada é vivermos amargos e amargurados, enquanto escurecemos os dias dos que partilham caminho connosco.

José é o santo da humildade e da esperança, do amor e da coragem que só o amor dá. Cada pai, marido, trabalhador, crente tem muito mais em comum com ele do que poderia pensar. O que ele fez também está ao nosso alcance! Imitemo-lo no nosso próprio caminho de santidade!

 

Marinha Grande, 19 de março de 2023

Lúcio (também sou José!) Gomes